SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em forte queda nesta sexta-feira (1º), com investidores repercutindo dados de emprego dos Estados Unidos bem mais fracos do que o esperado. O mercado ainda pesa o tarifaço do presidente Donald Trump, principal pauta nas mesas de operação.
Às 12h32, a moeda norte-americana caía 0,93%, cotada a R$ 5,547. A cotação do Ibovespa, por outro lado, está fora do ar desde o início do pregão devido a um problema técnico.
A criação de vagas de trabalho nos Estados Unidos ficou bem abaixo das projeções no último mês de julho: foram abertos 73 mil postos, ante expectativa de 110 mil. A taxa de desemprego subiu de 4,1% para 4,2%.
Além disso, houve uma revisão dos dados do mês de junho. Em vez de 147 mil vagas, como reportado anteriormente, foram criadas apenas 14 mil.
Na análise do economista sênior do Inter, André Valério, o resultado do “payroll” (folha de pagamento, em inglês) sugere uma economia paralisada pela incerteza em torno da política comercial de Trump.
“A tendência de desaceleração do mercado de trabalho americano é clara”, afirma. “Toda a incerteza gerada pelo ‘dia da liberação’ parece ter contribuído para a paralisação nas contratações, o que tem sido evidenciado nas revisões para baixo.”
Os dados sucedem a decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) pela manutenção da taxa de juros no atual patamar de 4,25% e 4,5%. Em entrevista coletiva após a reunião, o presidente Jerome Powell viu o mercado de trabalho em um ponto de equilíbrio devido ao declínio simultâneo de oferta e demanda, embora tenha reconhecido que essa dinâmica “sugere um risco de queda”.
Até então, a leitura do mercado era de que os juros não seriam cortados em setembro. Com os dados do payroll nesta sexta, as apostas estão de volta à mesa, e o próximo relatório de emprego deverá ditar se haverá ou não o início do ciclo de afrouxamento monetário.
A decisão pela manutenção dos juros não foi unânime entre os membros do comitê: dois diretores defenderam um corte de 0,25 ponto percentual, e houve uma abstenção.
“Vale destacar que membros do Fed emitiram declarações sobre suas discordâncias, e o tom delas indicou que não há motivos claros para sustentar as taxas nos patamares atuais”, diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
As declarações destacaram “que cortes de juros poderiam prejudicar o mercado de trabalho e que a criação de emprego no setor privado está ‘estagnada’, minimizando também o impacto das tarifas sobre a inflação”, afirma Shahini.
O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, baliza as decisões de política monetária a partir dos dados de desemprego e de inflação. O objetivo é atingir o pleno emprego e levar a inflação à meta de 2% ao ano.
Quanto maiores as taxas de juros nos Estados Unidos, mais o mercado tende a direcionar investimentos para lá, já que os retornos ligados à renda fixa norte-americana ficam mais atrativos -o que fortalece o dólar. O inverso também é verdadeiro: sinalizações de queda nos juros levam os operadores a retirar recursos dos EUA e direcioná-los a outros ativos, o que enfraquece a moeda.
A pauta comercial, porém, segue no radar. Trump assinou uma medida na noite de quinta impondo tarifas de 10% a 41% sobre dezenas de países e mudando o início do tarifaço para dia 7 de agosto.
O vizinho Canadá será taxado em 35% já a partir desta sexta, conforme ameaçado por Trump em carta enviada neste mês. Antes, a tarifa do país era de 25%. O aumento, segundo a Casa Branca, foi devido em parte ao fracasso em interromper o fluxo de fentanil na fronteira.
Entre as sobretaxas do decreto que atinge 69 parceiros comerciais, estão 41% para a Síria, 39% para a Suíça, 30% para a África do Sul e 15% para a Venezuela. Índia e Taiwan serão alvo de uma tarifa de 25% e 20%. Lesoto, que havia sido ameaçado com uma taxa de 50%, ficou com 15%.
O Brasil é listado com uma tarifa de 10%, mas na quarta-feira Trump assinou medida que implementa uma tarifa adicional de 40% sobre os produtos brasileiros, elevando o valor total da sobretaxa para 50%, a maior até o momento. Apesar da taxa, o país se beneficiou de uma isenção para cerca de 700 produtos exportados aos EUA.
O texto afirma que alguns parceiros comerciais, “apesar de terem se envolvido em negociações, ofereceram termos que, em meu julgamento, não resolvem os desequilíbrios em nosso relacionamento comercial ou não se alinharam com os EUA em questões econômicas e de segurança nacional.”
As novas tarifas retomam o chamado “Dia da Libertação”, em 2 de abril, quando Trump anunciou pela primeira vez o tarifaço sobre dezenas de países. A reação negativa na ocasião fez o presidente americano suspendê-las na semana seguinte, impondo no lugar uma cobrança temporária de 10% enquanto buscava acordos com os países alvo. O prazo, adiado duas vezes, se encerraria nesta sexta.
No período, Trump chegou a uma trégua com a China após as tarifas entre os dois países superarem 100% e celebrou acordos com o Reino Unido, Japão, Coreia do Sul e União Europeia, alguns de seus principais parceiros comerciais.
No caso do Brasil, a sobretaxa temporária de 10% deu lugar no início de julho a uma ameaça de 50%. O presidente americano havia dito em carta e confirmou no decreto desta quarta que parte dos motivos para aplicar sobretaxas ao país seria o que vê como “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Após a confirmação das sobretaxas às exportações brasileiras, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve tentar ampliar a lista de exceções para poupar mais empresas do tarifaço do republicano. Os negociadores esperam que as tratativas se arrastem por um longo período.
Uma das apostas é na abertura de um canal de diálogo do ministro Fernando Haddad (PT), da Fazenda, com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
A posição no governo Lula é que as discussões sobre os assuntos econômicos devem se manter e até se intensificar, independentemente das sanções financeiras impostas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Fonte:Notícias ao minuto