SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Kremlin confirmou nesta quinta-feira (7) um encontro entre os presidentes Vladimir Putin e Donald Trump para a semana que vem, provavelmente nos Emirados Árabes Unidos, e ignorou a sugestão feita pelo americano de uma reunião subsequente entre ambos e o ucraniano Volodymyr Zelensky.
O relato foi feito pelo assessor internacional de Putin, o ex-embaixador nos Estados Unidos Iuri Uchakov. Ele havia participado, na véspera, do encontro entre o chefe e o negociador-chefe do republicano, Steve Witkoff, em Moscou.
Após ser informado sobre a reunião, Trump deu sua versão dos fatos. Disse que os russos pediram o encontro com ele e que, na sequência, ele sugeriu a cúpula tripartite incluindo Zelensky. Mesmo com o que chamou de “grande progresso”, o presidente americano ainda trabalha para implementar novas sanções contra o Kremlin nesta sexta (8).
Neste dia expira o prazo dado por ele a Putin para topar um cessar-fogo, o que o russo não deu indicação de que fará. A partir da fala de Uchakov, passou a colocar nuances acerca da narrativa da quarta -que, claro, buscam colocar o controle dos fatos na mão do líder russo.
“Por sugestão do lado americano, um acordo foi alcançado para realizar uma reunião bilateral de alto nível nos próximos dias. Estamos agora começando os preparativos concretos junto com nossos colegas americanos”, disse o assessor a repórteres. Depois, o Kremlin confirmou a semana que vem como data.
Questionado acerca da sugestão de Trump de incluir Zelensky nas conversas, que o americano relatou ao ucraniano e a líderes europeus logo após ser informado dos detalhes do encontro por Witkoff, Uchakov disse apenas que não houve resposta. Nesta quarta, questionado, Putin disse “não ter nada contra” um encontro futuro com o ucraniano.
PUTIN E TRUMP GANHAM TEMPO
A reportagem conversou com duas pessoas próximas do Kremlin para tentar aferir o ânimo no governo Putin. Os relatos coincidem: não está claro quais as cartas foram colocadas na mesa, mas elas envolvem tanto o pedido de concessões territoriais por parte de Moscou quanto o comprometimento com algum tipo de redução na atividade militar.
A questão das sanções, disseram esses observadores, foi mantida. O discurso público do Kremlin é de que a Rússia aguenta qualquer coisa, mas o exemplo feito por Trump da Índia assustou os russos. Trump elevou a 50% as tarifas de importação de produtos de Nova Déli, com 25 pontos percentuais do pacote atribuídos ao fato de que os indianos são os segundo maiores compradores de petróleo russo.
A elite russa, esteio ao fim de Putin, teme que o espraiamento disso para países como China e Brasil, este o segundo maior destino do diesel russo, possa de fato piorar uma situação econômica já delicada. Com efeito, a Bolsa de Moscou abriu em alta de 4,5% com a perspectiva de uma acomodação.
É incerto que isso ocorra. Os observadores dizem que o Kremlin ainda acredita que as sanções poderão ser anunciadas nesta sexta, embora haja a possibilidade de que sejam adiadas. Com isso, Putin e Trump ganhariam tempo às expensas de Zelensky.
O russo também fez um aceno aos aliados do Brics em Nova Déli, anunciando nesta quinta que irá visitar a Índia até o fim deste ano para “reforçar a parceria estratégica”, nas palavras do governo.
Politicamente, é uma vitória para Putin, que poderá se mostrar novamente como dono da bola na relação com Trump, ainda que ela seja propriedade do americano na realidade. E Trump aposta alto para tentar colher algum tipo de trégua para chamar de sua no conflito que havia prometido resolver em 24 horas ao voltar ao poder.
Ele primeiro apostou na aproximação com Putin, com quem conversou por telefone por cinco vezes desde fevereiro. O máximo que extraiu, além da reabertura dos contatos diplomáticos entre as duas maiores potências nucleares do mundo, foram três rodadas diretas de negociação entre Moscou e Kiev.
Dela resultaram apenas troca de prisioneiros e a apresentação de listas mutuamente excludentes de exigências para paz. Putin quer várias coisas, como todo o território que diz ser seu na Ucrânia e até eleições no vizinho, e daí silenciar canhões. Já Zelensky não aceita nada disso e pede uma trégua antes da negociação.
Com tudo isso, as conversas tenderiam a repetir o processo que encerrou a guerra no Vietnã, em 1973, que durou cinco anos de duras negociações com a violência correndo solta. Trump não quer isso e busca uma imagem rápida para vender.
Assim, o americano passou a pressionar Putin, dizendo que estava decepcionado com o russo. E apresentou o ultimato, que inicialmente tinha como prazo setembro e, depois, foi adiantado. Chegou a fazer ameaças nucleares aos russos. Putin, a julgar pelo desenvolvimento desta semana, piscou.
CÚPULA SERÁ A PRIMEIRA DESDE 2021
Esta será a primeira cúpula entre Rússia e EUA desde 2021, quando o então recém-chegado à Casa Branca Joe Biden encontrou-se com Putin em Genebra, na Suíça. Antes, Trump e Putin se encontraram ao menos 6 vezes no primeiro governo do republicano, 1 delas em forma de cúpula.
A invasão da Ucrânia em 2022 jogou a relação entre os países para o pior nível desde a Guerra Fria. Nem o Kremlin, nem a Casa Branca disseram onde será a reunião. Putin recebe nesta quinta o presidente dos Emirados Árabes Unidos, xeque Mohamed bin Zayed al-Nahyan, e disse que o país é “apropriado” para o encontro.
Os Emirados têm ampliado fortemente sua presença diplomática nos últimos anos. Trump trouxe o país para fazer as pazes com Israel em 2020 e fez lá uma de suas raras visitas ao exterior neste novo mandato. Já Putin, com extensos negócios na área de energia, é recebido como um tsar em Abu Dhabi -em 2023, chegou ao país escoltado por seus próprios caças.
ZELENSKY TEME FICAR PARA TRÁS
Para Zelensky, há o risco de ser deixado para trás novamente, até porque Trump tem notória má vontade com o ucraniano. Na primeira manifestação desta quinta, ele disse que “está na hora de parar esta guerra” e apenas citou que as cúpulas poderiam ou não incluí-lo.
Depois, o ucraniano ligou para o presidente francês, Emmanuel Macron, visando arregimentar apoio na Europa. Zelensky disse que “não há uma resposta pública clara” da Rússia acerca da intenção de aceitar um cessar-fogo.
Ele está enfraquecido internamente: protestos contra uma tentativa de tirar autonomia de órgãos investigativos de Kiev o obrigaram a recuar, e surgiram sinais de que os EUA preferem ver o ex-chefe das Forças Armadas Valeri Zalujni como futuro líder do país.
Visando mostrar força, nesta noite Zelensky ordenou um ataque mais duro contra solo russo. Disparou oito mísseis de cruzeiro britânicos Storm Shadow, os quais o Ministério da Defesa em Moscou diz ter derrubado. Já uma refinaria na região de Krasnodar (sul) pegou fogo brevemente, após ser atingida por drones.
No leste ucraniano, a guerra segue feroz, com avanço lento das forças de Putin em Donetsk e, mais ao sul, Dnipropetrovsk. Já em Sumi (norte), o governo local determinou a fortificação da capital homônima, temendo um assalto renovado dos russos, que ocupam uma faixa pequena junto à fronteira.
Fonte:Notícias ao minuto