Mortes na Guerra da Ucrânia disparam 135% sob Trump


(FOLHAPRESS) – O mundo viu um certo arrefecimento na violência de seus principais conflitos armados, com a notável exceção da Guerra da Ucrânia, que registrou um aumento brutal de 135% no número de mortos de 1º de julho de 2024 a 30 de junho de 2025.

O período coincide com a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, eleito em novembro de 2024. De forma paradoxal, ao anunciar e abrir negociações com a Rússia, o republicano estimulou ambos os lados a acirrarem suas ações de olho em posições mais vantajosas no campo em caso de uma trégua, como a Folha de S.Paulo havia mostrado em julho.

Morreram no conflito 87.458 pessoas, segundo os dados divulgados nesta terça-feira (25) da Pesquisa de Conflitos Armados do IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, na sigla inglesa), um anuário da entidade londrina que compila dados próprios e de diversas bases. Estima-se que de 1.500 a 2.000 das vítimas eram civis.

Os eventos violentos quase dobraram, chegando a 80 mil -17 mil deles em solo russo, um reflexo da intensificação dos ataques ucranianos com drones e da malfadada incursão que tomou um pequeno pedaço da região meridional de Kursk, de agosto de 2024 a abril deste ano.

A guerra decorrente da invasão russa de 2022 é 1 dos 36 conflitos armados ativos no mundo. Eles mataram 239.787 pessoas no período analisado, um aumento de cerca de 23% ante o aferido na edição de 2024 da pesquisa. Cerca de 50 mil desses mortos eram civis, 40% a mais do no levantamento anterior.

Apesar da carnificina na Ucrânia, que inclui 5.160 mortos na Rússia , o ritmo global diminuiu: de 2023 para 2024, o crescimento geral havia sido de 37% devido à guerra na Faixa de Gaza.

Apesar de a frágil trégua na região só ter sido costurada em outubro, fora do escopo da análise, houve um cessar-fogo temporário no começo do ano e ações menos intensas de Israel no território.

O resultado foi uma queda pela metade nas mortes, somando agora 20.990 -incluindo aí vítimas na Cisjordânia, e não os 106 mortos registrados do lado israelense.

Ainda assim, o mundo segue com o maior índice de violência desde a Segunda Guerra Mundial, com exceção do período da Guerra da Coreia (1950-53) e do genocídio em Ruanda (1994), como nos últimos anos.

As contas do IISS abarcam mortes de militares, civis e integrantes de grupos armados não nacionais. Nesse quesito surge em destaque o Brasil, que viu sua posição no ranking de mortes subir de décimo para sétimo, totalizando 7.108 vítimas. Em eventos violentos, caiu de quinto para sexto, mas com aumento nominal: 9.015 incidentes reportados.

Esses dados associam diretamente mortes ao crime organizado, o problema do caso brasileiro. São um recorte entre as 44 mil mortes aferidas em 2024 todo pelo Anuário Brasileiro da Segurança Pública, mas particularmente preocupantes segundo o IISS devido ao crescimento da influência do PCC e do Comando Vermelho na economia formal.

Evidenciada pela Operação Carbono Oculto, em agosto, tal mudança de perfil lembra um fenômeno mundial: a submissão progressiva da população a Estados paralelos. Segundo o IISS, usando dados a Cruz Vermelha, há 380 grupos armados servindo como governos para 204 milhões de pessoas no mundo -quase um Brasil.

Oitenta e cinco por cento desses grupos cobram impostos e provêm serviços públicos. Eles são mais ativos na África e Oriente Médio, que concentram respectivamente 158 e 85 desses atores. As Américas vêm a seguir, com 72.

Em relação a deslocados internos e refugiados, contados pela ONU, a situação é sempre grave em países conflagrados.

Se o segundo item só teve melhora relativa no Afeganistão, no primeiro o destaque negativo é o Sudão, 11,5 milhões de refugiados ante 9 milhões na pesquisa anterior. Chama a atenção na América Latina a Colômbia, com um salto de 5 milhões para 7,2 milhões no período.

A pesquisa também faz um perfil socioeconômico de quem é afetado pelos conflitos. Apesar de a Guerra da Ucrânia ser uma exceção dada a renda média maior dos russos, somente 5 dos 36 países têm um Produto Interno Bruto per capita superior a US$ 20 mil -o Brasil fica um pouco abaixo disso, em sexto lugar no ranking.

A desigualdade também é fator importante, particularmente naqueles conflitos ligados ao crime organizado: Brasil e Colômbia figuram com os piores índices de Gini, que mede o problema, na lista.

O mesmo pode se dizer acerca do papel da democracia. Cruzando o indicador de boa governança da britânica Economist Intelligence Unit com os países pesquisados, apenas 8 dos 36 tiram acima de 5 numa escala de 0 a 10 -o Brasil está no meio do caminho, ao lado de México e Tailândia, com nota 5.

Quando o fator apurado é a percepção de corrupção, é utilizado o ranking da Transparência Internacional, no qual 0 é o pior nível e 100, o melhor. Só Israel, entre os países em guerra ou conflito, fica acima de 50, marcando 64 pontos na escala vigente de 2024. O Brasil fica com 34, e o pior nível é o do Sudão, com 8.

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Fonte:Notícias ao minuto

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