
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,36% nesta quarta-feira (19), cotado a R$ 5,337, com investidores repercutindo a ata da última reunião de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).
A perspectiva de manutenção da taxa de juros norte-americana impulsionou ativos vindos de lá, e a moeda se fortaleceu globalmente. O índice DXY, que compara o dólar uma cesta de seis outras divisas fortes, avançou 0,62%, a 100,21 pontos. Leituras acima de 100 pontos indicam força da moeda dos EUA.
O efeito também contaminou a Bolsa brasileira, que fechou em queda de 0,72%, a 155.380 pontos. O Ibovespa também foi afetado pela cautela global dos investidores antes do resultado da Nvidia, a ser divulgado após o fechamento dos negócios.
A ata do Fed mostrou que, em um comitê dividido, a decisão pelo corte de 0,25 ponto percentual passou por uma discussão sobre o que juros mais baixos significariam para o processo inflacionário.
“Muitos participantes foram favoráveis à redução”, apontou a ata, mas alguns deles também teriam ficado satisfeitos em manter a taxa básica inalterada. Ao mesmo tempo, outros se opuseram ao corte, “expressando preocupação com a estagnação do progresso em direção à meta de inflação de 2%”.
Além da possível trava na convergência da inflação ao objetivo, outros ainda levantaram a hipótese de que juros mais baixos poderiam, inclusive, causar um repique nas expectativas de inflação de longo prazo.
Na análise de André Valério, economista-sênior do Inter, o documento reforçou uma percepção que tem se tornado mais popular: há uma divisão clara entre os membros do comitê. A ausência de dados mais conclusivos, além da percepção de que há riscos elevados tanto de enfraquecimento do mercado de trabalho quanto de repique inflacionário, “também tem levado o Fed a adotar uma postura mais cautelosa no proceso de decisão”.
“Tudo indica que a decisão de dezembro será bastante dividida.”
É o que mostravam também as apostas do mercado. Na ferramenta Fed Watch, os operadores estavam no meio-a-meio: 50,9% deles apostavam em um corte de 0,25 ponto em dezembro, enquanto os 49,1% restantes viam a manutenção como mais provável.
Após a ata, a balança pendeu para o lado da manutenção. Agora, as probabilidades são de 31,6% e 68,4%, respectivamente.
Mais subsídios às apostas serão dados nesta semana. Na quinta, é esperado o relatório “payroll”, que mede a atividade do mercado de trabalho norte-americano. Será a primeira publicação do tipo desde 1º de outubro, quando a paralisação do governo dos Estados Unidos suspendeu as divulgações macroeconômicas oficiais. Até agora, tanto o Fed quanto o mercado estavam se valendo de publicações laterais, comandadas pela iniciativa privada ou pelo próprio banco central.
Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais -e o oposto também é verdadeiro. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.
Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.
Outro destaque da agenda é o balanço da Nvidia, a ser publicado após o fechamento do mercado.
Investidores estão cada vez mais preocupados se o boom de inteligência artificial está superando os fundamentos, e a Nvidia, fabricante de chips de IA, é o termômetro da vez para os mercados globais.
“A cada trimestre que passa, o resultado da Nvidia se torna mais importante em termos de esclarecimento sobre para onde a IA está se movendo e quanto investimento está sendo feito”, disse Brian Stutland, diretor na Equity Armor Investments.
Se o resultado decepcionar, há o receio de uma reprecificação profunda nas big techs -algo que impactaria não apenas as Bolsas, mas também os mercados de moedas e de títulos.
Ainda assim, a demanda pelos chips da Nvidia continua forte, com gigantes de computação em nuvem, incluindo a Microsoft, anunciando investimentos de bilhões em centros de dados de IA.
Como quinta-feira (20) é feriado no Brasil, os efeitos da agenda serão mais sentidos na sexta-feira, volta dos negócios. Por causa disso, é de se esperar posicionamentos mais cautelosos nesta quarta.
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Fonte:Notícias ao minuto


