
IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Poucas horas antes do encontro entre Donald Trump e Volodimir Zelenski para debater a versão final de uma proposta para acabar com a Guerra da Ucrânia, o presidente americano conversou com o russo Vladimir Putin, que invadiu o vizinho há quase quatro anos.
Na rede social Truth, ele não detalhou a conversa, que chamou de “muito produtiva”, nem quem fez a ligação. Se isso pode prenunciar uma negociação com alguma chance de sucesso ou apenas a usual propensão pró-Rússia do americano, é incerto.
Mais cedo, a Rússia havia anunciado uma série de vitórias militares no leste do país que invadiu há quase quatro anos.
Segundo o Ministério da Defesa russo, foram conquistada seis localidades, inclusive a estratégica Mirnohrad, na região de Donetsk (leste).
O governo em Kiev buscou negar a perda, dizendo que os combates prosseguem na cidadezinha, que fica ao lado da vital Pokrovsk, centro logístico das forças ucranianas na área que caiu para Moscou no mês passado.
Mas a análise de imagens georrefenciadas de soldados de Putin celebrando a conquista entre as ruínas da cidade, feita por observadores ucranianos e russos, indica que o Kremlin está certo.
A cidade caiu em três meses de cerco, ante quase um ano no caso de Pokrovsk. Outra localidade vizinha, Huliaipole, resistiu apenas quatro semanas de assalto. Tudo isso sugere um esgarçamento da capacidade defensiva de Kiev na região pela qual mais luta nos mil quilômetros de frente de batalha.
O “timing” da divulgação, claro, levanta suspeitas de exageros para influenciar a negociação entre o presidente americano e o ucraniano, marcada para a tarde deste domingo (28) no resort de Trump na Flórida, em Mar-a-Lago.
Na véspera, Putin já havia feito uma demonstração de assertividade com um ataque de mísseis e drones de larga escala, que matou 1 pessoa e feriu outras 32 só em Kiev, que ficou novamente às escuras em meio ao inverno gelado da Ucrânia.
A eletricidade só foi restabelecida nesta manhã de domingo para as áreas afetadas. O país enfrenta a pior crise energética desde a invasão de 2022 devido à intensificação dos ataques russos.
O presidente russo também voltou a dizer, no sábado, que se a Ucrânia não fizer concessões, será dobrada à força. Simbolicamente, estava vestido com fardamento militar, o que costuma fazer quando busca projetar uma imagem de força.
Zelenski chegou aos Estados Unidos no sábado (27). Ele irá discutir seu plano de 20 pontos, desenhado como uma reação ao programa de 28 itens que havia sido proposto inicialmente pelos EUA -a partir de uma trabalho conjunto com Moscou.
A versão inicial era francamente favorável ao Kremlin, enquanto a atual atende a boa parte das demandas de Kiev para o fim da guerra. Há vários pontos que a Rússia já disse não aceitar, como o congelamento das linhas de batalha como estão para daí negociar concessões territoriais.
Putin quer todos os territórios que anexou ilegalmente em 2022, fazendo questão publicamente da totalidade do Donbass, composto pela já 100% russa Lugansk e por Donetsk, a joia da coroa da região, que está cerca de 80% ocupada segundo sites de monitoramento da guerra.
Já nas meridionais Zaporíjia e Kherson, ambas aproximadamente com 75% de seu território sob controle russo, Putin indicou em encontro com Trump realizado em agosto que toparia ficar com o que já tem, abrindo mão do restante das regiões. Resta saber se retiraria suas forças de outras áreas, como Sumi, Kharkiv, Mikolaiv e Dnipropetrovsk.
Os EUA propuseram, nas semanas de negociação com os ucranianos e russos, de forma separada, que a parte de Donetsk sob controle de Kiev seja desmilitarizada. Moscou disse que aceitaria o plano desde que o policiamento e controle da região fossem feitos por forças suas -o que Zelenski rejeita.
A questão territorial é a principal, mas não a única a dividir as opiniões. Antes do encontro, Zelenski lembrou que só poderá haver paz com garantias de seguranças dadas por outros países para o caso de Putin voltar a atacar.
Moscou não aceita a proposta de uma força de paz internacional, e é incerto como reagiria a uma proteção que implicasse uma guerra com os EUA e os aliados europeus de Washington na aliança Otan.
De todo modo, o presidente ucraniano disse que se não houver acordo sem perdas, ele terá de fazer uma consulta popular sobre o que for decidido com Trump.
Mesmo isso é incerto, pois ao fim depende de combinar com os russos. E todas as indicações de Putin até aqui são de que ele só irá parar a guerra se puder vender o acordo como uma vitória de seus termos.
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Fonte:Notícias ao minuto


